
História das Copas do Mundo: México - 1986

Com a “Mão de Deus”
O México, em 1986, foi o primeiro país a sediar uma Copa do Mundo pela segunda vez (a primeira havia sido em 1970). Só que a mesma nação que vira o triunfo do Brasil dezesseis anos antes, assistiu, na década de 80, à arte de Diego Armando Maradona e ao bicampeonato da Argentina.
O direito de sediar o torneio duas vezes veio após a desistência da Colômbia, que passava por problemas financeiros. E quase que os mexicanos também não conseguiram realizar o mundial: um forte terremoto em 1985 deixou 20 mil mortos no país, mas os estádios permaneceram de pé e tudo ficou pronto para o ano seguinte.
Diferente das edições anteriores, a FIFA optou por não realizar uma segunda fase em grupos, mas sim em uma série de mata-matas, que começavam a partir das oitavas-de-final. Assim, os quatro melhores terceiro colocados de cada quadrangular conseguiam passagem à outra etapa, completando as dezesseis seleções necessárias para as disputas.
A Copa do Mundo de 1986 teve início no dia 31 de maio com um empate em 1 a 1 entre Itália e Bulgária. A Squadra Azurra, como em 1982, não teve uma primeira fase digna de aplausos, da qual terminou em segundo lugar no Grupo A. Chegou a empatar em 1 a 1 com a Argentina e só se classificou após derrotar a fraca seleção da Coréia do Sul por um apertado 3 a 2.
A primeira posição do quadrangular ficou para os argentinos, que venceram os coreanos por 3 a 1 e os búlgaros por 2 a 0 (gols do atacante Jorge Valdano e do meia Jorge Burruchaga).
Pelo Grupo B, Bélgica, México e Paraguai garantiram passagem à segunda fase à frente do estreante Iraque.
Já no Grupo C ocorreu a maior goleada daquele mundial, quando a União Soviética balançou as redes da Hungria seis vezes. A França, que ainda contava com o talento de Michel Platini, também fez uma boa primeira fase e terminou em segundo naquele quadrangular, atrás dos soviéticos.
A seleção canarinho ainda possuía um grande excrete: Alemão, Careca, Casagrande, Falcão, Muller, Sócrates e Zico eram alguns dos nomes que disputavam pelo Grupo D a Taça FIFA. Treinados ainda por Telê Santana, os jogadores conseguiram vitórias sobre a Espanha de Emilio Butragueño (1 a 0), mesmo placar aplicado na Argélia. Já a vitória por 3 a 0 em cima da Irlanda do Norte garantiu à seleção canarinho o primeiro lugar no grupo, deixando a outra vaga para os espanhóis.
No Grupo E, a estreante Dinamarca surpreendeu a todos ao vencer os três jogos, com direito à goleada sobre o Uruguai (6 a 1). Além disso, faria 1 a 0 na Escócia e deixaria a Alemanha Ocidental perdida em campo ao derrotá-la por 2 a 0. A excelente campanha inicial rendeu à seleção escandinava o famoso apelido “Dinamáquina”.
Finalmente, pelo Grupo F, uma surpresa talvez maior ainda: o Marrocos, o primeiro país africano a passar à segunda fase de uma Copa do Mundo na história. Após empatar em 0 a 0 com Polônia e Inglaterra, os marroquinos derrotaram Portugal por 3 a 1, garantindo a incrível primeira posição no quadrangular, à frente dos ingleses e dos poloneses.
Mascote da Copa de 1986, "Pique"; pôster oficial do Mundial (Reprodução)
Porém não iriam além das oitavas, quando o meia Lothar Matthaeus marcou para a Alemanha Ocidental comandada por Franz Beckenbauer aos quarenta e três minutos do segundo tempo. Placar final: 1 a 0.
A sensação “Dinamáquina” também não conseguiu passagem para as quartas, sendo derrotada por 5 a 1 pela Espanha.
Já os canarinhos, com gols de Sócrates, Josimar, Edinho e Careca, passaram fácil pela Polônia.
Os argentinos também carimbaram lugar nas quartas ao mandarem de volta para casa seus vizinhos uruguaios por 1 a 0 (gol de Pedro Pasculli), assim como os ingleses eliminaram os paraguaios por 3 a 0.
Seleção argentina na Copa do Mundo de 1986: sob o comando de Maradona (Reprodução)
Já os italianos tricampeõs mundiais decepcionaram sua torcida ao perderem de 2 a 0 para a França, com gols de Michel Platini e Yannick Stopyra.
Por fim, a União Soviética foi eliminada após ser derrotada por 4 a 3 pela Bélgica, em um dos jogos mais emocionantes daquela edição, e o México derrubou a Bulgária por 2 a 0, em uma das melhores campanhas do país da América do Norte.
Os melhores jogos da Copa, no entanto, foram disputados nas quartas-de-final. Tão disputados que três deles precisaram de pênaltis para se descobrir o vencedor.
A primeira partida, realizada no dia 21 de junho, apresentou duas grandes seleções a um público de 65 mil pessoas no Estádio Jalisco em Guadalajara: Brasil e França.
Aos dezessete minutos, Careca deu à seleção nacional um sopro de esperança ao balançar as redes adversárias, mas Michel Platini levaria o jogo ao empate ainda no primeiro tempo. Na última etapa, o goleiro francês Bats salvaria seu país ao defender um pênalti batido por Zico. E o Brasil perderia sua chance de chegar à semifinal.
A partida foi para a prorrogação e não saiu de 1 a 1, o que requereu os pênaltis. Apesar do erro de Michel Platini nas cobranças, Sócrates e Júlio César também não converteram, e, com isso, a seleção canarinho deu adeus à Copa do Mundo de 1986.
Um dos maiores craques de todos os tempos, Platini levou a França à semifinal (Rep.)
Outras dois países que deixaram o Mundial nas quartas foram México e Espanha, que perderam respectivamente para Alemanha Ocidental e Bélgica, respectivamente.
Já Argentina e Inglaterra protagonizaram o melhor jogo daquela edição do campeonato, com Maradona se mostrando “metade anjo, metade demônio”, como alcunharia o jornal francês L’Équipe após a partida.
Disputado no Estádio Azteca, na Cidade do México, o primeiro gol “hermano” saiu, na realidade, das mãos do astro argentino, que deu um toquinho na bola com a mão antes que o goleiro inglês Peter Shilton pudesse afastá-la. Maradona diria mais tarde que o gol fora feito com a “Mão de Deus”.
O mesmo “Dieguito” iria encantar o mundo minutos depois ao sair com a bola do meio de campo, driblar cinco adversários, incluindo Shilton, e balançar as redes adversárias.
Lineker, que seria o artilheiro daquele Mundial com seis tentos, faria ainda um gol de honra para a Inglaterra. Mas não adiantou: os ingleses estavam eliminados.
Maradona empurra bola para o gol com a mão, ou melhor, com a "Mão de Deus" (Rep.)
E os argentinos garantiram vaga na final após mandarem para casa a surpreendente Bélgica nas semifinais, enquanto os alemães, mais um vez, tentariam o tricampeonato depois de vencerem a França por 2 a 0, destruindo os sonhos da grande geração de Michel Platini, que terminaram o Mundial em terceiro colocados (4 a 2 sobre a Bélgica).
A decisão foi realizada no dia 29 de junho no Estádio Azteca para mais de 114 mil torcedores. A Argentina abriu o marcador logo aos vinte e três minutos com José Brown e ampliaria a vantagem aos onze do segundo tempo com Valdano. A força alemã não se intimidou e conseguiu o empate com Karl-Heinz Rummenigge e Rudi Voeller. Jorge Burruchaga, entretanto, colocaria um ponto final na disputa, dando a vitória aos argentinos.
A Argentina de Diego Armando Maradona se sagrava bicampeã mundial.
Campanha brasileira na Copa do Mundo de 1986:
Primeira Fase / Grupo D:
BRASIL 1 X 0 ESPANHA
BRASIL 1 X 0 ARGÉLIA
BRASIL 3 X 0 IRLANDA DO NORTE
Oitavas-de-final:
BRASIL 4 X 0 POLÔNIA
Quartas-de-final:
BRASIL 1 (3) X (4) 1 FRANÇA
Trio de artilharia:
Gary Lineker (ING) – 6 gols
Emilio Butragueno (ESP) – 5 gols
Careca (BRA) – 5 gols
Classificação final:
1º - ARGENTINA
2º - ALEMANHA OCIDENTAL
3º - FRANÇA
4º - BÉLGICA
5º - BRASIL
6º - MÉXICO
7º - ESPANHA
8º - INGLATERRA
9º - DINAMARCA
10º - UNIÃO SOVIÉTICA
11º - MARROCOS
12º - ITÁLIA
13º - PARAGUAI
14º - POLÔNIA
15º - BULGÁRIA
16º - IUGOSLÁVIA
17º - URUGUAI
18º - PORTUGAL
19º - HUNGRIA
20º - ESCÓCIA
21º - CORÉIA DO SUL
22º - ARGÉLIA
23º - IRAQUE
24º - CANADÁ